Incêndios florestais: o que os proprietários rurais precisam saber sobre tais responsabilidades? 3u492x

Publicado em 30/09/2024 12:42
Por Luciana Camponez Pereira Moralles e Guilherme Cremonesi

O agronegócio enfrenta um desafio crescente relacionado às mudanças climáticas, especialmente no que se refere à frequência e intensidade dos incêndios florestais, que impactam diretamente a atividade produtiva. O aumento das temperaturas, a alteração dos padrões de precipitação e a maior incidência de períodos de seca prolongada criam condições propícias para a ocorrência de incêndios. Esses eventos não apenas destroem áreas cultiváveis e pastagens, mas também causam danos significativos à infraestrutura agrícola, à biodiversidade local e à fauna. 30416y

Os incêndios florestais têm um impacto devastador na fauna, pois muitos animais perdem seus habitats e fontes de alimento. Além disso, o fogo pode causar a morte direta de animais que não conseguem fugir a tempo. As espécies ameaçadas de extinção são particularmente vulneráveis, já que seus números reduzidos tornam mais difícil a recuperação das populações após um incêndio.

Para enfrentar esses desafios, é crucial que o setor invista em planejamento e prevenção. A integração de dados históricos sobre condições climáticas e a colaboração estreita com a comunidade são essenciais. Medidas preventivas, como a criação de aceiros, a manutenção de áreas de vegetação controlada e a implementação de sistemas de monitoramento de incêndios, podem reduzir consideravelmente os riscos. O combate ao fogo, embora necessário, é uma solução economicamente onerosa e ambientalmente limitada. Portanto, ações preventivas são não apenas mais eficientes, mas também mais sustentáveis a longo prazo.

A análise de risco das atividades agrícolas deve considerar a probabilidade de incêndios florestais, implementando planos de ação que incluam a capacitação de equipes para resposta rápida, a utilização de tecnologias de monitoramento e a criação de brigadas de incêndio. A melhor forma de controlar esses eventos é através da prevenção e de ações integradas, pois, após a ocorrência, o impacto ambiental, econômico, social e na fauna é elevado, e a restauração das áreas afetadas é lenta e complexa.

Além dos impactos sociais e humanitários dos incêndios florestais, é importante destacar a responsabilidade civil do proprietário rural pelo reflorestamento e restauração ambiental das áreas atingidas. Mesmo que o proprietário não seja o causador direto do incêndio, ele pode ser responsabilizado pela recuperação do meio ambiente. Isso se deve ao princípio do poluidor-pagador e à responsabilidade objetiva ambiental, que não depende da comprovação de culpa.

Essa responsabilidade impõe ao proprietário a necessidade de adotar medidas preventivas e corretivas em sua propriedade. Em muitos casos, a dificuldade de identificar o causador específico do incêndio e o foco inicial do fogo dificultam a atribuição de responsabilidades. Portanto, os proprietários rurais devem estar cientes das implicações legais e ambientais decorrentes das mudanças climáticas e do aumento do risco de incêndios.

Nos eventos recentes ocorridos em agosto de 2024, verificou-se, de forma surpreendente, que a quantidade simultânea de incêndios aponta para uma alta probabilidade de ações criminosas. Nesse contexto, o artigo 250 do Código Penal Brasileiro, que tipifica o crime de causar incêndio expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, se torna cada vez mais relevante. A pena prevista para esse delito, que inclui reclusão de três a seis anos e multa, reflete a gravidade da conduta e o potencial destrutivo de incêndios, especialmente em um cenário onde os impactos climáticos estão intensificando a ocorrência e a severidade desses eventos. Nesta mesma linha, em julho, foi alterado a Lei de Crimes Ambientais, pela Lei Federal nº 14.944/2024, que incluiu no tipo penal outras formas de vegetação, não apenas matas e florestas, como objeto de proteção jurídica.

A conscientização e a preparação são fundamentais para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e garantir a resiliência do setor agrícola frente a um cenário cada vez mais incerto. Além disso, a proteção da fauna deve ser uma prioridade, pois a biodiversidade é essencial para a saúde dos ecossistemas e para a própria sustentabilidade da atividade agrícola.

*Luciana Camponez Pereira Moralles é advogada especialista da área ambiental e regulatória do escritório Finocchio & Ustra Sociedade de Advogados

*Guilherme Cremonesi é advogado especialista da área penal empresarial e sócio do escritório Finocchio & Ustra Sociedade de Advogados

Fonte: Finocchio & Ustra Sociedade de Ad

NOTÍCIAS RELACIONADAS 3hz63

Muralha Sanitária, por José Zeferino Pedrozo
Dados preliminares revelam tendências no uso de máquinas agrícolas
Agricultura do futuro depende de sinergia entre tecnologias
Conservação do solo e sua importância para preservar a vida no planeta, por Valter Casarin
Projeções de máquinas agrícolas no Brasil 2030
Benefícios fiscais e estruturação empresarial no Agro: às transformações da Reforma Tributária
undefined